quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Hoje são eles os sem abrigo, amanhã podemos ser nós que nada tem.

Por: Vitor Parati
21 de Novembro de 2016

Não sei como começar a expressar meu sentimento, apenas necessito dizer que me sinto realizado.
Ontem foi mais um daqueles dias super normais para mim. Levantar á 1;45 da madrugada para ir trabalhar.
10 horas da manhã estar no Terra Solta a preparar terreno para plantar morangos e de seguida fazer uma sementeira de bolotas, segue-se o almoço e depois continuar a sementeira, terminada a tarefa um pouco de musica cantada pela malta e castanhas de seguida. A chuva cai com intensidade, sei que ainda falta um compromisso final, dar de comer aos sem abrigo.
O cansaço como é normal apodera-se de meu corpo levando já quase 15 horas de movimento sem parar, cheguei a pensar, vou para casa descansar. Não, não vou, algo me falta fazer.
Boleia e lá fui eu para a Praça da Republica para terminar meu dia com os sem abrigo, como sempre tudo corria de coração com os voluntários, a dada altura uma voluntária me pergunta. Sabes se alguém trouxe roupa para dar? infelizmente não. Contemplei meu dia quando reparo que uma senhora com pouca roupa necessita se agasalhar, não hesitei, tirei meu blusão um pouco largo e lhe disse. Veste, é teu. De seguida lhe pergunto. Não te lembras de mim? És a Elisabete, verdade? Ela, com um olhar desmoronado fixa seu olhar no meu. Eu lhe digo, não repares em minhas barbas brancas e recua 15 anos atrás.
Eu sou o Vitor, aquele que à muitos anos atrás também foi toxicodependente e dormiu na rua como tu, reconheceu-me e me abraçou forte, contive minhas lágrimas para que não se apercebesse que eu choraria por outros motivos. Estou aqui para ajudar.
Continuei meu trabalho de voluntário de rua com frio, cheguei a casa todo molhado, tomei um banho quente e me deitei em minha cama quente morto de cansado e com a sensação de meu dever cumprido.
Digo a muita gente, ontem fui eu, amanhã poderás ser tu. Hoje são eles os sem abrigo, amanhã podemos ser nós que nada tem.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não me recordo do seu rosto, nem do seu nome.....

Por: Liliana Moita
31 de Outubro de 2016

Não me recordo do seu rosto, nem do seu nome, nem se continua connosco naquela fila do costume, lembro sim… das suas palavras e do seu toque. Naquela noite fria estávamos a chegar ao ponto, para mim ainda era tudo muito confuso, era confuso ver tantas caras a solicitar a nossa ajuda, era confuso a azáfama entre voluntários pois ainda tínhamos pouca experiencia de rua …naquele tempo servíamos as refeições com as térmicas pousadas naquele pilar de betão que separa o largo passeio da rua e a cobertura do prédio. A sala de jantar improvisada naquele passeio estava repleta, era uma pequena multidão de gente a saborear uma refeição e a trocar palavras de conforto, entre sorrisos calorosos e um há vontade como se nos conhecessemos há imenso tempo. Foi nesse momento de convívio que um senhor chegou perto de mim e muito educadamente perguntou: Os seus caracóis são verdadeiros menina? E eu respondi que sim. Posso tocar neles? E eu simplesmente abanei a cabeça … O senhor estendeu a sua mão e quando sentiu o cabelo exclamou: Ao tempo que não sentia e tocava no cabelo de alguém, são fofinhos dizia ele… e ali ficou com a mão no meu cabelo por momentos. Foi aí que percebi que algumas daquelas pessoas tinham principalmente falta de afecto que eram olhadas pela sociedade como pessoas intocáveis e isso doía-lhes . Ainda hoje quando naquelas rodas especiais a Cristina Silva nos pede para nos lembrarmos dos momentos que mais nos tocaram, este momento é sempre relembrado, pois foi este momento que me “ empurrou” e me fez prometer que jamais abandonaria aquelas pessoas . Passados 4 anos anos cá estou , sempre de coração e com o respeito que estas pessoas merecem. Uma vez voluntária , voluntária para sempre. 


<3



Acreditaram e foram....

Por: Elizabeth Menezes
31 de Outubro de 2016

Passavam por dificuldades como tantos outros casais L&E com o seu pequeno F....
Iam ao ponto da câmara e, com o apoio dos voluntários, a oportunidade surgiu: um trabalho em França na apanha da fruta e ...... acreditaram no recomeço....partiram :)

Mantivemos sempre o contacto, viviam num escritório onde não podiam fazer refeições, apenas aquecer comida no microondas. 
O feedback de quem lhes deu a mão? O patrão? Gostou do seu trabalho. Trabalho duro mas que permitiu um novo recomeço.

Agora, regressaram a Portugal, com novos empregos e  já a vivem numa casa digna e com o pequeno F a frequentar o infantário conseguem ter uma vida normal.   

Não têm aparecido no ponto a Câmara por acharem que neste momento se encontrarem melhor mas, fica a promessa de uma visita levando consigo o pequeno F que os voluntários conhecem desde bebe e que ajudaram com um pouco de tudo....

O casal, agradece de coração toda a ajuda e dizem que não vão esquecer 

E nós, Coração na Rua também não esquecemos.......casos felizes 

domingo, 30 de outubro de 2016

SER Coração na Rua

Por Sérgio Ferreira
25 de Outubro de 2016

Ser Coração na Rua não depende de mim….

Ser Coração na Rua é um modo de vida diferente de tudo o que vivenciei…
Toda e qualquer ação e opção que tomei até hoje, encaminharam-me até este momento….. Não consigo ( nem quero ) desligar….não se encontra o descanso quando se chega a casa…..encontra-se o conforto mas não a sensação de dever cumprido….há sempre o pensamento fixo naquele que fica na rua, ao relento, ao frio e …..só….sim, é isso que mais Nos custa…
Eu não pude escolher o Coração na Rua, Ele é que me “escolheu”…. A identificação foi automática, sem cartão de presenças nem cartão de associado…..apareci e…aqui estou. Não se trata de um erro na convocatória, porque esses são sanados a partir da primeira ou segunda participação……trata-se da luta por quem se torna próximo de nós…
Desenganem-se aqueles que pensam que estarei até ao fim, porque não vou estar……no final, quando fizerem a roda final, eu não estarei presente, porque até o meu tempo aqui terá fim, mas no que me tornei….não acabará….Eu sou CR, mas o CR não sou eu….
Porque agradeço em cada roda ?? Pela pessoa que me estou a tornar e pelos valores que aprendo e que quero passar…. Sim, estou a falar muito em mim…..mas sei que falo por muitos de nós…. O que daqui levo não aprenderia em outro lugar, o que daqui levo fará sempre parte de mim… e alguém tem que agradecer porque o que fazemos é muito importante… não iremos mudar o mundo, mas pelo menos um sorriso arrancaremos, um aconchego proporcionaremos e uma refeição daremos a quem nos procura….
Se é perfeito ?? Claro que não… Mas duas coisas tenho a certeza:
Como dizia a Madre Teresa ….”… sei que o que faço é apenas uma gota no oceano, mas também sei que se não o fizesse o oceano seria menor…”
E como dizia o despenteado Einstein…”… bem hajam as crises que nos fazem ser melhores para as superar…”
Pedem-nos para não desistir….. mas, como poderemos desistir se nascemos para isto?? “….venham sempre ter connosco….” – claro que iremos porque não sabemos outro caminho….
Muito me custa quando me ligam a pedir o nosso excesso de comida e me apercebo que até no nosso ponto já se acabou…… Afinal não querem mudar o rumo das coisas??? Até já abriram Restaurantes Solidários e não conseguem acabar com esta situação?? Afinal não é tão simples como 63x5x raiz quadrada de 49 com a soma automática dos quoficientes ???
Fui um dos primeiros a apoiar a assinatura na dita “estratégia”….mas também sou dos primeiros a reconhecer que não pode haver estratégia quando só um dos lados se ouve e faz ouvir… agora é que o trabalho árduo vai começar (pós-assinatura)….. agora é que temos que ter posição e voz uníssona e que temos que firmar posição…não é por nós, nunca foi…é pelos amigos que temos por aí espalhados….
Se correu bem a saída da Câmara ? Óbvio que sim, mas a sensação de que ficou tudo por fazer no dia seguinte fica sempre….é constante …. e é essa dor que não me deixa esquecer…
Estamos todos juntos e só assim o rumo será o certo…







segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Passados 4 anos...

25 de Setembro de 2016
Por: Cristina Silva

Bom dia
Obrigada a todos que de alguma forma ajudaram na saída ,mostra que estamos todos de Coração e unidos para que fortaleça cada vez mais o grupo que é uno.
Ontem assisti a várias mudanças mas a mais surpreendente foi (para quem se recorda ) foi ter encontrado velhos "amigos " .
Passados 4 anos reconheci pelo olhar o Dianis (nome fictício), incrível atitude, auto -estima e trato.
Voltou ao passado e falou sem magoa do mesmo 
.
Não quis comer porque não precisava, acompanhava um amigo a quem quer passar a sua determinação e o querer mudar como ele fez.
Trabalha numa fábrica em Alfena , tem contrato assinado e paga o seu quarto 
.
" O passado ajudou -me a crescer Bieloska (como antigamente me chamava).
Entre um passado doloroso , onde a rua foi sua companheira ficou o abraço do agora , com emoção ...com carinho e admiração. 

Sou grata 


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Dum passeio surge uma voz....

18 de Setembro de 2016
Por: Agostinho Sousa

Dum passeio
Surge uma voz
Que olha com receio para nós
estende-nos a mão
Que aperta o egoísmo
do nosso coração
Falta-nos a coragem
para poder parar
Ouvi-la....
A nossa moeda
poder senti-la
Esmoreceu o seu apelo
Por entre o eco dos nossos passos
Apressados demais para entende-lo
e humanos por serem escassos

Conto de Primavera

18 de Setembro de 2016
Por: Agostinho Sousa

Era uma vez uma criança
Que trazia no seu rosto
estampado um sorriso
Alegre e cheio de esperança
Caminhando por entre flores
cujo os odores,anunciavam
Chegou a Primavera
chilrear dos pássaros
Seus cânticos entoavam
A criança brincava
na inocência da idade
Uma certeza da vida
Não se enganou
É verdade sim é verdade
Chegou a Primavera